domingo, 28 de junho de 2015

Um despertar para uma nova vida - Rio 2 anos

Fim de tarde de uma quinta-feira. Céu nublado, folhas voando e um coração inquieto que batia acelerado. Essas são as imagens que me vêm à memória daquele 27 de junho de 2013. Isso mesmo, dois anos atrás eu chegava ao Rio de Janeiro sem uma passagem de volta. Com pouca bagagem, muita expectativa e rodeado por uma aura de ingenuidade – que viria a se dissipar aos poucos – fiz de Botafogo o meu primeiro lugar fora de casa. De lá pra cá, “já morei em tanta casa que nem me lembro mais”.

Sentimentos confusos habitam a mente de quem sai de casa sem um destino certo. Recém-formado, nenhum emprego em vista ou conhecidos na cidade e sem saber por onde começar: as coisas pareciam ainda mais difíceis. A única certeza era que o curso de Letras (motivação inical para a mudança) começaria em agosto. Do Fundão, onde estudei por apenas três meses, guardo apenas as amizades e os bons momentos que faziam daquele duro início mais suave.

Troquei a Ilha do Fundão pelo reino do Castelo Mourisco de Oswaldo Cruz: enfim, o primeiro emprego como jornalista. Surgia o tal Lucas Rocha que começava a se aventurar em textos cada vez mais complexos e inusitados. Falar sobre doenças, técnicas e aplicações tornou-se um desafio cotidiano – que suprimiu até o pânico e a irritação de falar ao telefone. Ah, o telefone! Ferramenta mágica que permite contato com jornalistas de todo o Brasil e do mundo: da TV Globo à BBC, da Rádio Aparecida à CBN, do Correio Braziliense à Tribuna de Santos. Os assuntos?! Vão de A a Z: AIDS, dengue, chikungunya, leishmaniose, hanseníase, zika... Na hora de escrever sobre um assunto, toda fonte de informação é válida! Outro dia, veja só, recorri ao REFICOFAGE (reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie)!

Não satisfeito, pensei que voltar para a Comunicação Social seria uma boa ideia. Um retorno que reforça a busca pelo aperfeiçoamento, a vontade de manter a mente em dinâmica atualização e fugir do comodismo. Trabalhar durante o dia, estudar durante a noite e encontrar tempo para viver no meio disso, rs. A faculdade é como o tal rio que você não pode entrar duas vezes, como dizia Heráclito. Você já não é o mesmo, mas talvez isso seja algo bom.

Dois anos... o Rio me garantiu o despertar para uma nova vida. Nesse tempo, eu me perdi, me encontrei, me reinventei. Com a mudança, passei a conhecer prazeres inusitados, desfrutar de novos sabores e a aproveitar o tempo da melhor forma possível. Descobri o que é amar, aprendi a expressar sentimentos e a importância de contar com aqueles que nos querem bem, mesmo que à distância. Ganhei força para lutar pelos meus sonhos, meus afetos e planos. Aos poucos fui deixando de ser imediatista, aceitando que a estrada é longa e que este é apenas o começo.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um mal chamado: adultos

É incrível como não há nada que os adultos não consigam estragar. 

As redes sociais são um ótimo exemplo. Quando toda essa febre começou, gastar tempo nesse tipo de atividade era coisa de adolescente, ou no mínimo de gente à toa. A coisa era tão inútil que havia competição pra ver quem tinha mais scraps, depoimentos ou era 100% sexy. Mais legal ainda era ser um dos criadores das grandes comunidades. Lembro que as minhas não passavam de 10 membros, um fracasso. Aos poucos eles foram chegando, os insuportáveis adultos. Primeiro aparecia a sua irmã mais velha, logo depois uma tia... O desespero vinha mesmo quando alguém dava aquela força e criava o perfil dos seus pais! BOOOM! Mas veja só, até a vovó está aqui.

Não contentes em se enfiar num espaço antes livre e direcionado ao que ia do fútil ao inútil, os adultos conseguiram ir além e estragar as coisas ainda mais. Com a sua terrível maneira de transformar tudo o que é divertido em burocrático, as grandes corporações viram nas redes sociais uma excelente oportunidade de... quem dá mais?! Quem dá mais?! Lucrar! Isso mesmo. Após a era do merchandising que a gente ignorava no canto da tela veio uma enxurrada de portais “sérios” tomar conta do nosso playground. Veja só, agora você tem que conviver com tudo misturado na sua timeline: a zueira de seus amigos, os gifs coloridos da tia Zelda e as notícias do que mais importante aconteceu no Brasil e no mundo.

Você não pode mais entrar em grupos apenas para falar em tiopês como se fosse um idiota, ou comentar a novela das seis despreocupadamente. Os adultos tornaram as redes sociais um palco para que você tenha que discutir assuntos sérios. Você precisa ter uma opinião sobre tudo o que acontece. Ainda não tomou seu partido a favor ou contra a Sheherazade? Quem é você na internet, então?

Mas o pior de tudo é o discurso patético de que as redes sociais são, necessariamente, um espelho da realidade. Os adultos contaminaram tanto o espaço que hoje você é avaliado, julgado e condenado por qualquer desabafo que possa vir a postar. As empresas levam em consideração se você anda postando fotos bêbado ou se expõe demais sua vida antes de te contratar. O resultado é que você precisa se policiar antes de dizer no Twitter que odeia acordar cedo. Vai que eles estão te monitorando e seu turno de trabalho começa às 7h. 

Cuidado, eles estão te observando! 
Eles quem?! Os adultos.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um novo jornalista

Quatro meses se passaram! No terceiro, tive a grande alegria de voltar pra casa! Foi uma longa jornada, em que tudo o que tinha para dar errado, de fato, assim aconteceu. Passei duas semanas pensando numa maneira de conseguir uma grande folga, inventei histórias mirabolantes, subestimei o trânsito do Rio de Janeiro, perdi meu voo, e fui obrigado a ficar mais algumas horas em terras fluminenses. Estava me sentindo na Caverna do Dragão: todas as tentativas de voltar para casa estavam fracassando.
Voltei às Minas Gerais com um misto de “quero ficar pra sempre” com “já tenho uma vida do outro lado”. Aproveitei cada segundo, cada momento, para me preencher de esperança, de amor, de carinho. As malas voltaram repletas de doces, quitutes e lembranças mineiras, já eu voltei com energia para continuar a jornada escolhida, ainda que difícil.
Como planejado, retornei para a rotina, aproveitei os momentos num emprego mecanizado para fazer amizades e me diverti como nunca antes por estar aqui. Tudo isso sem imaginar que uma grande mudança estava chegando. Sempre fui conhecido como o repórter de saúde do jornal-laboratório da UFU, o Senso Incomum. Olho para o passado e vejo que todas as tardes quentes entre o campus Santa Mônica e o Campus Umuarama valeram a pena. As várias horas correndo atrás de médicos, profissionais de saúde e estudantes renderam fruto. Na época eu não fazia ideia, mas esse seria meu passaporte para começar a carreira profissional.

Lucas Rocha
Jornalista
Assessor de Imprensa do Instituto Oswaldo Cruz
Fundação Oswaldo Cruz

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um dois.

Dois meses no Rio de Janeiro. Assim como...

-Já tive duas moradias: uma em Botafogo, agora em Copacabana.
-Duas são as linhas do metrô: laranja e verde.
-Dois foram os mergulhos no mar: um em Ipanema e outro em Copacabana.
-Fiz duas reportagens freelancer até o momento.
-Pago dois reais para almoçar no Restaurante Universitário.
-Peguei o metrô para o sentido contrário duas vezes.
-Duas são as habilitações do curso de Letras: Português/Inglês.
-Duplo é o meu novo quarto.
-Fui duas vezes à Barra da Tijuca, ou fim do mundo.
-Fiz duas voltas completas na Lagoa Rodrigo de Freitas.
-Dois grandes eventos agitaram a cidade: Copa das Confederações e Jornada Mundial da Juventude
-Fui o novato em dois lugares.
-Dois reais é o valor dos livros no Largo da Carioca.

Mais de duas vezes...

-Eu chorei sem motivo aparente.
-Eu ri sozinho no metrô.
-Rezei pedindo iluminação.
-Pensei em largar tudo e voltar pra casa.
-Me senti em casa.
-Encontrei amigos e os vi partir.
-Atravessei o túnel de bicicleta e me senti livre
-Fui para a praia apenas para pensar
-Quis nadar na Baía de Guanabara
-Corri para pegar o metrô e as portas quase se fecharam.
-Observei a movimentação dos vizinhos nos prédios ao redor.
-Achei que meu diploma não serviu para nada.
-Contei a minha história e me cansei dela.
-Torci pro metrô estragar para conhecer os túneis embaixo da terra.
-Quis ir a uma peça de teatro e não tinha dinheiro.
-Tive vontade de ir à Barra mas desisti pela distância.
-Olhei o preço da passagem de avião para Uberlândia.
-Me emocionei ouvindo o sotaque mineiro.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Um mês - Diário de Bordo Rio

Um mês. Mensurar o tempo nos ajuda a planejar e organizar nossa vida. Ao mesmo tempo nos aprisiona em convenções sufocantes, como horários de almoço, hora do rush e poucos dias de férias entre meses de trabalho. Quando mexem com ele tudo pode acontecer, como a pequena mudança no horário de verão que incomoda muita gente ou os resultados das greves: semanas de estudo e trabalho fora do tradicional calendário.
30 dias morando no Rio de Janeiro e posso relatar que vivi experiências intensas, algumas impublicáveis. “Eu vou formar e ir embora”, a frase entoada durante meses se tornou realidade e a expectativa de começar a vida em um lugar totalmente novo era grande. Já posso dizer que o Rio de Janeiro das visitas não é o mesmo para quem faz daqui moradia.
O povo. As pessoas não são acolhedoras como se ouve falar na televisão. Muito menos pacientes como afirmam por aí. O atendimento é precário, a maioria dos prestadores de serviço te trata como se estivesse lhe prestando o maior favor de sua vida. Você diz “bom dia” e não te olham na cara, com raras exceções. Chega um momento em que você não sabe se deixa a educação que trouxe de casa de lado e passa a ser um deles, ou se insiste no contrário.
O Rio de Janeiro continua lindo, sim, verdade, mas precisa ser cuidado. As calçadas são irregulares e cheias de falhas. Até Odete Roitman foi vítima de uma, né. Fora que a preparação para grandes eventos ainda é um desafio. Assistir ao carro do Papa parado na Avenida Presidente Vargas ao lado de um ônibus como se fosse um morador comum preso no engarrafamento cotidiano é uma cena pitoresca. Além disso, ainda falta informação sobre deslocamento para os turistas. Enquanto transitar de metrô é relativamente tranquilo, andar de ônibus é uma tristeza. Todos os dias o prefeito Eduardo Paes se desculpa por alguma coisa, chega a ser cômico: pelas falhas no transporte, pela queda da Odete, pela superlotação em Copacabana.
Morar. Alguns me perguntam se moro sozinho. A resposta vem rápida, como se fosse até mesmo óbvia: não. Morar na zona sul é uma coisa cara, céus! Como o Rio de Janeiro é caro. Não só moradia como também alimentação e consumo. Um prato-feito custa 10 reais. Compras simples em um supermercado não saem por menos de 20 reais e a passagem do metrô vai a 3,20.
Crescer. Você sempre foi ao médico escolhido por sua mãe, cortava o cabelo no salão que ela recomendava, usava as marcas de produtos que ela aprovava. Num supermercado nunca havia passado em seções de comidas que precisam de preparo mais elaborado. Para fazer um macarrão o jeito foi imitar o que ouvi a vida toda e pedir ao balconista um "queijo curado" e ouvir que não tinham disso lá. A comida não é ruim, mas está longe do sabor de Minas. O feijão de todo dia deles é o feijão preto, que eu detesto. O “feijão carioca” aqui é um artigo raro: ironia fina. Deixar a casa dos pais também significa deixar a comidinha da mamãe, os carinhos e mimos de uma vida toda. Engraçado é passar sempre pelo carrinho do vendedor de milho verde quase todos os dias e lembrar-se de casa. Ser o único entre os seus amigos que nunca havia preparado um arroz com feijão e ser aquele a fazer as malas e deixar tudo pra trás: uma graça! O primeiro macarrão foi uma aventura, pois é assim que eu levo as coisas, não tem tempo ruim! Longe do sabor daquele da minha casa, mas orgulhoso pelo meu feito e por começar a gastar menos.
Pertencimento. Às vezes me pego repetindo mentalmente os textos do metrô ou decorando a ordem das estações para tentar assimilar esse local, para me sentir inserido, me sentir em casa. Ir até a Estação Cinelândia como algo cotidiano e banal, e ver a Estação Botafogo como “a da minha casa”. Acaba a novela das seis e eu fico esperando Fernanda Vieira dar boa noite, mas entra a Ana Luiza Guimarães com seu sotaque chiado trazendo as notícias do RJTV. Nem um oferecimento do Café Cajubá.
Isolamento. A interação não é o forte do carioca, sequer de muitos que vêm de fora pra cá. Por vezes passo minutos na janela olhando o movimento, imaginando para onde vão aquelas pessoas tarde da noite. À minha esquerda a estátua do Cristo Redentor, como um bom amigo, começo conversas com Ele para fazer algum desabafo ou pedido, em voz alta, para lembrar como é o meu próprio sotaqueDeus! Como eu sinto falta de um "UAI". Ir à missa domingo e escutar as mesmas músicas que cantavam na Catedral de Teresinha e chorar ali, tentando esconder de todos. Ir até um McDonald's é lembrar que você ia sempre com aquele amigo, ou ver uma cena engraçada que precisava ser compartilhada imediatamente com alguém que pensaria exatamente o mesmo que você e que te entenderia com um olhar. Difícil. 
O fim da linha. Fui até a zona norte apenas uma vez. Um brechó em Vila Isabel para saber mais sobre uma oportunidade de emprego. Por mais que circule na televisão uma propaganda sobre “O Rio é um só” eu senti a diferença assim que pisei fora da última estação do metrô na praça Saens Peña. Músicas alegres, comércio popular, gente andando com sacolas pra todo lado, por um minuto esqueci que estava no Rio e lembrei-me das ruas do centro de Uberlândia num sábado agitado.
Momentos únicos. Ver pessoas famosas é algo um tanto quanto engraçado. Você não sabe se deve se aproximar e parecer um maluco, ou se todos em volta estão te olhando e achando você um idiota ou stalker. É diferente e divertido. Ouvir alguém falando inglês, espanhol ou alguma língua irreconhecível é comum por aqui, mas ver a cidade do Rio tomada por povos de várias nações em busca de um mesmo ideal é algo indescritível. Assim foi a Jornada Mundial da Juventude, um grande evento que impulsionou também o turismo e gerou mais de 1 bilhão de reais para a economia do Rio. Acompanhar as multidões caminhando pelas ruas, túneis e orlas das praias teve o seu valor. A oportunidade de ver o Papa Francisco de perto valeu pelos dias não tão bons em terras fluminenses. Como cristão católico, aproveitei a oportunidade para ouvir seus discursos, ainda que sob chuviscos na praia de Copacabana, tudo muito inspirador para o que ainda está por vir.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Um 2013 incerto


            Dizem que a virada do ano é a época das listas e promessas, mas não sou fã de colocar nada no papel. Em 2013 eu quero mudar para Ipanema, trabalhar na TV Globo, escrever minha sinopse de novela para 2045 ou um grande romance de seriado norte-americano. Mas é claro que tudo isso não passa de sonho. É mais produtivo analisar os feitos que eu realmente terei em 2013: seis meses de academia em fevereiro, a formatura em março, a defesa da monografia em abril, um jornalista diplomado em maio.
            O que vem depois?! Apenas páginas em branco. Por enquanto sei apenas que vou acompanhar o season finale da 9ª temporada de Grey’s Anatomy. Sem script ou roteiro pronto. Semanalmente alguém pergunta o que vou fazer depois de formar. Minha resposta é a mesma: não tenho planejamento. Vou mandar currículos e torcer que alguma empresa da área me chame para uma entrevista. É a transição para a vida real. Até agora tudo não passou de um conto de fadas: divertido, inspirador, mas uma grande fantasia.
?
            É o despertar é animador, finalmente a saída da zona de conforto. A vontade de mergulhar com tudo numa história nova, quase a ideia de uma carreira solo. A visão do possível chega a ser incrível e amedrontadora: em um ano estar trabalhando numa redação de TV do interior de Goiás ou assinando o folheto mensal da paróquia. É a temporada do incerto. Atualmente a única coisa que eu sei é que a ampulheta virou e está descendo areia.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Uma lista: 30 fatos sobre mim

- Eu decoro diálogos de filmes, séries e novelas.
- Eu gosto de essência de baunilha.
- Sou fiel, sei perdoar traições, mas leva tempo.
- Eu desenho televisão no vidro em dia de chuva.
- Meu humor vai do pastelão ao ácido.
- Eu gosto de escrever sinopses.
- Não sei disfarçar insatisfação.
- Os toques do meu celular são vinhetas de telejornais.
- Eu fico triste quando alguém pergunta se pode pegar a cadeira vazia ao meu lado.
- Na minha mente estou guardando lugar para alguém especial sentar ali.
- Quero passar minha velhice escrevendo telenovelas.
- Adoro entregar um jornal com um texto meu a um amigo.
- Não gosto de hipsters.
- Já fiz entrevista discordando de tudo o que ouvia.
- Preciso de cinco despertadores para acordar.
- Preciso do som da TV para dormir.
- Eu vejo as pessoas na rua e imagino as suas histórias.
- Às vezes eu crio mentalmente a minha versão das suas vidas.
- Eu tenho um quadro de parede do elenco de Ghost, meu filme favorito.
- Gosto de diários.
- Eu tomo sorvete sozinho.
- Sonho acordado.
- Presto atenção em detalhes.
- Eu penso se um dia vou dar conta de decorar um texto para entrada ao vivo de mais de um minuto.
- Não misturo tomate com feijão.
- Peço a sobrecoxa de frango no RU.
- Se eu não gosto de você, você vai saber sem eu te falar.
- Vejo o mesmo filme várias vezes ao invés de ver um inédito que pode me decepcionar.
- Como verduras e legumes quando estou muito triste.
- Acredito em versões modernas de conto de fadas.