30 dias morando no Rio de Janeiro e
posso relatar que vivi experiências intensas, algumas impublicáveis. “Eu vou
formar e ir embora”, a frase entoada durante meses se tornou realidade e a
expectativa de começar a vida em um lugar totalmente novo era grande. Já posso
dizer que o Rio de Janeiro das visitas não é o mesmo para quem faz daqui
moradia.
O povo. As pessoas não são acolhedoras
como se ouve falar na televisão. Muito menos pacientes como afirmam por aí. O
atendimento é precário, a maioria dos prestadores de serviço te trata como se
estivesse lhe prestando o maior favor de sua vida. Você diz “bom dia” e não te
olham na cara, com raras exceções. Chega um momento em que você não sabe se
deixa a educação que trouxe de casa de lado e passa a ser um deles, ou se
insiste no contrário.
O Rio de Janeiro continua lindo, sim,
verdade, mas precisa ser cuidado. As calçadas são irregulares e cheias de
falhas. Até Odete Roitman foi vítima de uma, né. Fora que a preparação para
grandes eventos ainda é um desafio. Assistir ao carro do Papa parado na Avenida
Presidente Vargas ao lado de um ônibus como se fosse um morador comum preso no
engarrafamento cotidiano é uma cena pitoresca. Além disso, ainda falta
informação sobre deslocamento para os turistas. Enquanto transitar de metrô é
relativamente tranquilo, andar de ônibus é uma tristeza. Todos os dias o
prefeito Eduardo Paes se desculpa por alguma coisa, chega a ser cômico: pelas
falhas no transporte, pela queda da Odete, pela superlotação em Copacabana.
Morar. Alguns me perguntam se moro
sozinho. A resposta vem rápida, como se fosse até mesmo óbvia: não. Morar na
zona sul é uma coisa cara, céus! Como o Rio de Janeiro é caro. Não só moradia
como também alimentação e consumo. Um prato-feito custa 10 reais. Compras
simples em um supermercado não saem por menos de 20 reais e a passagem do metrô
vai a 3,20.
Isolamento. A interação não é o forte
do carioca, sequer de muitos que vêm de fora pra cá. Por vezes passo minutos na
janela olhando o movimento, imaginando para onde vão aquelas pessoas tarde da
noite. À minha esquerda a estátua do Cristo Redentor, como um bom amigo, começo
conversas com Ele para fazer algum desabafo ou pedido, em voz alta, para lembrar como é o meu próprio sotaque. Deus! Como eu sinto falta de um "UAI". Ir à missa domingo e escutar as mesmas músicas que cantavam na Catedral de Teresinha e chorar ali, tentando esconder de todos. Ir até um McDonald's é lembrar que você ia sempre com aquele amigo, ou ver uma cena engraçada que precisava ser compartilhada imediatamente com alguém que pensaria exatamente o mesmo que você e que te entenderia com um olhar. Difícil.
Momentos únicos. Ver pessoas famosas é
algo um tanto quanto engraçado. Você não sabe se deve se aproximar e parecer um
maluco, ou se todos em volta estão te olhando e achando você um idiota ou
stalker. É diferente e divertido. Ouvir alguém falando inglês, espanhol ou
alguma língua irreconhecível é comum por aqui, mas ver a cidade do Rio tomada
por povos de várias nações em busca de um mesmo ideal é algo indescritível.
Assim foi a Jornada Mundial da Juventude, um grande evento que impulsionou
também o turismo e gerou mais de 1 bilhão de reais para a economia do Rio.
Acompanhar as multidões caminhando pelas ruas, túneis e orlas das praias teve o
seu valor. A oportunidade de ver o Papa Francisco de perto valeu pelos dias não
tão bons em terras fluminenses. Como cristão católico, aproveitei a
oportunidade para ouvir seus discursos, ainda que sob chuviscos na praia de
Copacabana, tudo muito inspirador para o que ainda está por vir.
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