Tenho a mania de dizer que se tenho um papel nessa vida com certeza ele é o de narrador. Dos três tipos, aquele que menos participa, o observador. Na época de escola, na hora de escolher quem ia ler cada parte de uma história, desde então eu já me posicionava assim. A televisão e o cinema ensinam que a vida é feita de grandes acontecimentos. Que vamos encontrar o amor de nossas vidas quando menos esperamos, em um dia chuvoso de verão ou durante uma trombada em que nossos livros vão pelos ares simultaneamente a uma troca de olhares com faíscas. De onde vem essa bobagem de que quando paramos de esperar é que as coisas acontecem? Está mais pra dica de Christina Rocha nos Casos de Família.
A realidade é que a vida não funciona assim, e mesmo tentando seguir um manual, pode ser que nada funcione. Os acontecimentos possuem uma dinâmica misteriosa e tentar desvendar as motivações pelas quais acabamos nos destinando a determinados caminhos só gera uma infinidade de perguntas. Dizem para sermos a pessoa que queremos ver refletida no espelho, que só depende de nós, mas isso é uma grande mentira. Nada no mundo acontece por acaso, toda ação tem uma reação, já afirmam os físicos. Para cada movimento que fazemos nesse grande tabuleiro, outras pessoas também se deslocam, gerando uma série de ocorrências.
Acreditar que o destino é uma poderosa força que atua sobre nós como se fôssemos marionetes é uma bobagem, uma acomodação. Entretanto, confortáveis na cadeira, ou cansados de correr atrás, às vezes gostamos de acreditar que um dia tudo vai se resolver automaticamente, "quando menos esperamos". As pessoas são confusas, indecisas e contraditórias. A falta de posicionamento e a incapacidade de assumir responsabilidades, ainda mais no campo afetivo, é algo desanimador. Apesar de tudo, para aquele que tem o encargo do narrador, que apenas acompanha as tramas que acontecem à sua volta, um consolo é poder reunir as mais interessantes e contá-las na forma de ficção algum dia.

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